terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Kristal


   Na longa avenida em cada quarteirão, meus olhos buscavam  bares, cafeterias,restaurantes, lanchonetes...
Sei lá, qualquer lugar para ela apreciar um longo e descafeinado capuccino, com pãezinhos de queijo quentinhos ou  até mesmo um bom e velho vinho francês de Portugal.
 
 Afinal hoje é sexta feira e o sol já estava se pondo, bom era o que parecia, com tantos edifícios na Cidade de São Paulo é difícil ver o por do sol.

   Cheguei cedo, na verdade já estava anoitecendo, estava ansioso masquei um Trident sabor melancia na intenção de espantar o nervosismo.
  O pequeno relógio apertado no meu pulso apontava 18h.
E cada vez que a porta da pequena lojinha de roupas velhas e usadas conhecida como brechó, se abria o meu coração aceleradamente batia, eu mascava outro chiclete, e depois outro e mais outro.

    Saiam tantas mulheres daquela loja que cheguei até cantarolar uma canção de Martinho da vila. Nas ruas as pessoas olhavam curiosas, perguntando o que eu fazia parado em frente a uma loja a mais de 2h, alguns chegaram a cogitar a hipótese que eu fosse um assassino contratado já que na terça-feira passada Dona Carmelita, dona do Brechó chamou uma de suas clientes de “Cara de coxa de galinha mal passado com hepatite c”.

   Até que no meio daquela multidão de curiosos, ela apareceu e saiu rapidamente pela porta, sem perceber os olhares em minha direção.
 Ela estava tão linda, tão estonteante e Iluminada, assim como a Lua que acabava de chegar e foi bater o cartão.
  Logo em seguida passou uma senhora carregando algumas sacolas de supermercado, Pensei seriamente em ajudá-la, mas suas sacolas não pesavam tanto quanto a minha decisão.
Então segui Kristal, por dois quarteirões, passei em frente ao Starbooks Coffer, senti o delicioso cheiro do Capuccinho, passamos também enfrente a Casa do pão de queijo e um bar chamado “Nós travamos”, mas de que adiantava tantas opções se não tive coragem nem para abordá-la.
   continuei seguindo Kristal até ela parar em frente a uma lotérica, logo pensei:
  vai apostar na mega sena da virada.
Resolvi também apostar na sorte e quem sabe receber meu pagamento em Kristal.


 A fila estava enorme, mas mesmo assim criei coragem e fui ao seu encontro, desistir no meio do caminho, pois um jovem rapaz lhe tomou o último lugar da fila, mas antes que a fila aumentasse eu resolvi tomar o último lugar dele.
   Cutuquei o ombro direito de kristal e me esquivei para o lado esquerdo, engraçado como ela foi seca.
Depois cutuquei seu ombro esquerdo, mas ela não gostou e encarou o rapaz que por sua vez me encarou.
 E foi nesse momento que Kristal percebeu a minha presença.
    Kristal deu um sorriso fácil que alegrou meu coração e diminui o batimento acelerado. Estava realmente linda e brilhava tão forte como o piercing pendurado em seu umbigo.
 Pensei em oferecer-lhe alguma coisa,mas no meu bolso havia uma barra de chocolate branco e uma cartela vazia de chicletes.
Bom, não tive duvidas, ofereci a cartela vazia de chiclete e comentei como o cheirinho de melancia era gostoso, mas pensei bem e ofereci o chocolate, ela não aceitou disse que não gostava de chocolate branco e que além disso estava derretido.

  As pessoas assistiam aquela cena como se fosse uma telenovela, distraíram-se logo em seguida com o bate boca entre a mocinha do caixa e um apostador, que não queria receber seu troco em moedas, ah, seu eu pudesse trocaria todas minhas moedinhas por um beijo de Kristal, mas é como dizem por ai, beijo não se compro se rouba. E o que eu roubei naquela noite foi seu tempo.

 Às vezes penso que se eu fosse Kristal, seria como Narciso, mas eu na verdade sinto-me um Vampiro, não reflito.
  Gostaria ao menos de ser gênio, mas para isso preciso me libertar da Lâmpada da timidez.
   
  Infelizmente, Kristal se foi, levando todo brilho. Sozinho, caminhei pela longa avenida, a procura de uma nova aventura.
  Mas valeu a pena, pelo menos encontrei os Paes de queijo, vinho e capuccinho.
Bom, o vinho eu recusei já que eu não bebo.

                                               (Continua...)

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